Este versículo tem deixado alguns dos irmãos em Cristo na corda bamba. Algumas comunidades chamadas cristãs têm usado tal expressão para rebaixar a segunda pessoa da trindade à posição de criatura, isto é, de um ser criado e não o eterno Filho de Deus. Será que eles têm razão? A resposta deve ser sim e não. Sim, eles têm razão se não entenderem corretamente a palavra usada pelo apóstolo João. Mas eles jamais terão razão, se compreenderem melhor a palavra “principio”.
Essa palavra é usada umas 58 vezes no Novo Testamento. Não há dúvida de que ela tem um significado para indicar um início em termos temporais. Por exemplo, em sua defesa perante Agripa, Paulo disse: “Quanto à minha vida […] como decorreu desde o princípio entre o meu povo…” (Atos 26:4). Ou também ao descrever o primeiro milagre de Jesus, João disse: “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia…” (João 2:11). Nos dois casos entre muitos outros houve um início temporal.
Mas precisamos lembrar que as palavras não são escravas de um só sentido. Quem diria que “olho” só refere-se ao órgão de visão? Existe oolho de agulha, olho de ferramentas ou ponha-se no olho da rua (que certamente ela não tem o órgão de visão). Que tal se a mangueira fosse uma árvore, curral ou aquilo usado pelos bombeiros. Assim sendo, não podemos ficar enraizados em um só sentido para as palavras bíblicas, como o nosso próprio idioma bem demonstra.
Por exemplo: a visão de Pedro sobre um lençol cheio de quadrúpedes e répteis. Ele o descreveu nestes termos: “…um objeto […] um grande lençol o qual era baixado à terra…” (Atos 10:11). (agora literalmente — por quatro princípios). Pouco se entende se for traduzido literalmente. Porém, os tradutores corretamente compreenderam a palavra “quatro” não como quatro princípios, mas quatro pontas. A palavra “princípio” usada pelo apóstolo João tem que ser entendida pelo no contexto do Novo Testamento. Ao estudá-la teremos meios de entender o que João quis dizer com: “O princípio da criação.”
Veja agora este termo em Lucas 12:11 “Quando vos levarem às sinagogas e perante os (princípios) e as autoridades.” De novo os tradutores bem entenderam pela palavra autoridade que os “princípios” eram os governadores ou governantes. Ou de novo no capítulo 20:20 “A fim de entregá-lo à jurisdição e à (princípio) autoridade do governador.” Ali também trata-se de um responsável no governo. Conferir Tito 3:1 (governam = princípios, isto é, um governante).
Obviamente então quem conhece a Cristologia (a visão de Cristo) do apóstolo João não tem dúvidas quanto ao significado desta palavra no Apocalipse. A visão de João refletida em seu evangelho, declara que Jesus existia eternamente na presença de Deus Pai, (João 1:3). E que foi Ele, Jesus, o criador do universo em que vivemos. João afirma: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (v.3). Veja bem, pois diz tudo que foi feito … para aqueles que sustentam a ideia que a segunda pessoa da trindade era o primeiro ou a principal criatura, entende-se que Cristo criou-se a si mesmo. Uma criatura não se cria a si mesma — é contraditório.
Com o que já vimos, podemos entender o texto de Apocalipse, quando João disse “…o princípio da criação de Deus”. Certamente, ele não quis rebaixar a segunda pessoa da triunidade para uma criatura feita por Deus. Pois já tinha dito, no seu evangelho, que Jesus existia eternamente face a face com Deus. O que o apóstolo salientou pelo uso da palavra “princípio” não refere-se ao sentido temporal, mas à responsabilidade. Os contemporâneos do apóstolo João teriam entendido que Jesus foi colocado em posição de autoridade, sendo Ele próprio um governante sobre a criação que Ele mesmo executou. Tal fato foi confirmado pelo apóstolo Paulo ao dizer em Colossenses 1:16-17: “Pois nele foram criadas todas as coisas […] Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.” O autor do livro de Hebreus o confirma em Hebreus 1:1–3: “…Deus […]nestes últimos dias, nos falou pelo Filho […] pelo qual também fez o universo […] sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder…”. É possível confirmar algo semelhante em Mateus 11:27; 28:18; João 13:3; 17:2; 1 Coríntios 15:27; Efésios 1:10; Hebreus 2:8.
Concluindo, entende-se que João está declarando que Jesus foi colocado na posição de governante, autoridade e com o poder necessário para executar o obra que criou. Leia o livro de Apocalipse reconhecendo que: “Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, [o soberano da Criação-NVI] o princípio da criação de Deus” (Apocalipse 3:14).
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